sábado, 14 de novembro de 2015

A desmaterialização do ciberativismo

"Para cada tragédia que acontece no mundo, mais uma modinha em foto de perfil do Facebook surge"

Foi esse post acima que deu rebuliço no meu perfil do Facebook no dia 14 de Novembro de 2015. O que eu quis dizer com esse post e o porque penso isso está detalhado abaixo:

Sempre acreditei em ativismo. Eu fui uma ativista até pouco tempo atrás quando servia como missionária pela igreja a qual pertenci por 10 anos ativamente. Andei centenas de quilômetros por cidades da Paraíba. Senti o sol quente, tive sede, lutei para que a minha mensagem de amor fosse ouvida e aceita. Fui ativista e com muito orgulho disso. 

Então, posso dizer que acredito que o ativismo é a melhor forma de se enviar uma mensagem. Olhar nos olhos, servir o próximo, oferecer conforto. Isso é feito em escala global por milhares de pessoas através de organizações não governamentais (sérias e engajadas), que estão ali para criar um mundo melhor. 

O ativismo vêm através de músicas (We are the World, I need to wake up, Legalize Já), livros (Simone de Beauvoir, Virginia Wolf, Jarid Arraes), Documentários (Uma verdade incoveniente, Cowspiracy, Blackfish), filmes (Tempos Modernos, As Sufragistas, O nome da Rosa).

O ativismo vêm para oferecer outros pontos de vista, outras saídas, escapes, realidade, senso de auto valor, ética e uma gama de outros pontos que vêm favorecer a sociedade na qual vivemos. Porém, há um tipo de ativismo que é tanto ineficaz quanto deturpado: o ciberativismo.

Já foi dito certa vez por Karl Marx, que "tudo o que o capitalismo toca se desmancha no ar". O sociólogo Marshall Berman também parafraseou o pensador alemão quando disse "tudo o que é sólido se desmancha no ar". Ambos os filósofos poderiam fazer um grande estudo sobre o efeito entorpecedor da indústria cultural sobre as mentes de vários internautas que fazem uso de instrumentos virtuais para "passar uma mensagem" de maneira tão ineficaz. Sabe-se que o Facebook hoje é uma ferramenta capitalista. Uma empresa que busca novos membros. Uma rede social que sobrevive à custa de compartilhamentos, curtidas, comentários e divulgação. O que é uma foto de perfil nova no Facebook? A possibilidade de afirmação social que todos queremos. A possibilidade de mostrar, da única forma que a maioria das pessoas só sabe fazer hoje, que é a do ativismo virtual. 

Vivemos num mundo onde tudo é capital e tudo é feito para gerar mais capital. Vivemos num mundo em que ideias como liberdade, igualdade e fraternidade vendem estampas para camisetas, vendem chaveiros, bonés, cartazes. Vendem ideias, vendem ativismo. Vendem a possibilidade de ser o que o status quo não permite. Hoje em dia o que não podemos ser em essência, somos no consumo. 

Praticamente todas as formas de ativismo no mundo estão corrompidas porque as ideias são muito mais vendida$ do que aceitas ou abraçadas. Hoje ser pró casamento gay, aborto, meio ambiente, plus size é muito mais uma questão mercadológica do que de preocupação em representar ou incluir uma minoria. É triste? É, sim. Mas essa é a nossa realidade.

O ciberativismo é nada mais do que isso. Ideias que são compradas, que são consumidas para uma promoção do status quo. Mudar a foto do perfil, curtir e compartilhar REALMENTE não mudam a realidade de muitos por aí que continuam morrendo sem ver nenhum dos polegares opositores a seu favor. A curtida foi somente vista por algum ativista de plantão na web, porém não serviu para salvar a vida. Porque? Porque TUDO o que o capitalismo toca (ou seja, tudo o que é usado para VENDER), desmancha-se no ar (perde sua essência, sua verdadeira razão de existir). 

Hoje as ideias são muito mais vendidas do que abraçadas verdadeiramente por quem quer mudar o mundo.

Finalizando,

Quando eu era missionária, os líderes locais queriam muito estender os alcances dos missionários para que os mesmos pudessem trazer mais pessoas para a igreja. O líder internacional que nos visitou na ocasião parabenizou os líderes pelo esforço mas falou algo interessante:
"vocês estão num naufrágio querendo salvar aquele que está se afogando do outro lado do mar, porém estão se esquecendo daqueles que estão se afogando bem do lado de vocês. Fortaleçam primeiro os membros daqui, depois pensem em ir mais longe".

Paris merece solidariedade. Mas o brasileiro sempre vai consumir a solidariedade pelo exterior, pelo exótico. Mariana? Minas Gerais? Vale? Se for do Brasil, nem vale a pena vender.