domingo, 18 de outubro de 2015

Cinema é realizado por paixão à arte

Maringá desenvolve produções cinematográficas de qualidade, provando que talento não se resume ao eixo Rio-São Paulo

 Imagem/Cibele Chacon
 Produções nacionais ainda são pequena parcela do cinema
Cibele Chacon
A Retomada do Cinema Nacional se deu no pós-governo Collor, marcada pela produção do filme “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” no ano de 1995. O longa evidenciou o início de grandes produções “tupiniquins”, inclusive, com o auxilio da Lei de Incentivo à Cultura, que já vigorava. Com isso, os filmes nacionais começaram a ser realizados não somente nos grandes centros, mas também no interior dos Estados, como é o caso de Maringá.

Mesmo com dificuldades financeiras e de aceitação do público, há quem faça cinema por amor à arte, como é o caso do publicitário e cineasta Eliton Oliveira, 32, cinéfilo desde criança. “A profissão de cineasta é marginalizada. A primeira coisa que as pessoas dizem é: ‘você vai conseguir ganhar dinheiro com isso?’ E eu respondo que não dá dinheiro, que não sobrevivo de cinema. Mas é uma coisa que eu não consigo deixar de fazer”, diz.

O cineasta, que havia feito diversos curtas, produz atualmente o primeiro longa-metragem, o documentário “23.11.1967: Documentos do Caso Clodimar Pedrosa Lô”, que é a compilação de depoimentos e manchetes de um episódio estarrecedor que chocou a cidade de Maringá pela maneira com que um jovem foi assassinado. E diz que hoje a cidade não tem estrutura para que um filme seja inteiramente realizado aqui, sem que seja necessário se deslocar a grandes centros para a finalização. “Meu sonho é transformar Maringá em um pequeno pólo de produção cinematográfica. Não será como São Paulo e Rio de Janeiro, mas, quem sabe, como Curitiba. Temos uma cidade muito bonita, que oferece muitos recursos visuais para um longa. Minha ideia é trazer profissionais de fora, para que quem está aqui possa aprender.”

Oliveira diz que o pensamento dos empresários não é de incentivar a cultura, e sim associar a marca a grandes produções. Essa é uma das maiores dificuldades para se conseguir financiar um projeto menor. “O que a gente mais ouve é não. A cada 50 empresas que a gente procura, uma ou duas se interessam em colocar dinheiro no projeto. As parcerias com empresas de comunicação é que ajudam a viabilizar o trabalho.”

Segundo o cineasta, o público que assiste a filmes nacionais é muito pequeno, apesar de estar crescendo nos últimos anos. “Para você colocar mil pessoas em uma sala de cinema para assistir a um filme brasileiro é muito difícil. Para você colocar 150 mil pessoas em um estádio de futebol para assistir a um jogo, é fácil. Mas é uma questão de cultura. O brasileiro não tem essa cultura do cinema, tem a do futebol”, afirma.


Para fãs, qualidade não falta ao Brasil


Cinéfilos divergem sobre a qualidade do cinema regional; para uns, está crescendo, outros afirmam que não


Raisa Marcondes
Cinéfilos e cineastas começam a voltar a atenção para a arte cinematográfica realizada dentro das fronteiras do país. Alguns deles, que residem em Maringá, concordam quando o assunto é a qualidade crescente dos filmes nacionais e regionais.

“Quando se trabalha com orçamento baixo, começa-se a priorizar os pontos fortes da produção que independem do patrocínio, como personagens mais densos, trama mais bem construída, e exige-se mais dos atores na atuação”, diz José Santos, 25, professor, quando indagado se considera de boa qualidade as produções regionais e nacionais.

O cinema regional sofre algum preconceito quando se põe em questão a qualidade técnica do filme, como conta Lucas Tascim, 18, secretário. “Eu não vejo muito cinema regional pela falta de interesse. A qualidade técnica não me atrai, não há muito apelo”, diz.

Cássia Conejo, 27, professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), diz acreditar que não há muita divulgação para o cinema regional, mas isso não interfere na qualidade técnica. “Não tem muito relevo. O filme estrangeiro você vê na mídia, o nacional é menos divulgado nos meios de comunicação de massa”, diz. Cássia afirma também que não consegue comparar o cinema regional com os alternativos americanos. “No caso de Pink Flamingos [1972, John Walters, EUA], por exemplo, o contexto histórico é diferente. Isso deve ser levado em conta quando comparado aos filmes daqui”, diz.

Para Renato Lemos, 23, professor de espanhol, a qualidade de atuação é bem diferente. “Minha preferência seria pelo internacional, pelo fato dos atores hollywoodianos serem mais experientes no que se refere ao cinema”, afirma. Ele ainda conta que isso não interfere na hora de assitir a um filme nacional, “Se for para assitir, eu assisto”, diz.

O estudante de direito Tiago Campanholi, 20, diz preferir o cinema internacional ao nacional, mas afirma que o nacional está evoluindo em qualidade. “Eles [cineastas brasileiros], estão parando de falar somente de sexo. As tramas estão mais profundas e complexas. Isso faz o filme ficar melhor”, diz.

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