domingo, 18 de outubro de 2015

Falta de formação se reflete na imprensa

A não obrigatoriedade do diploma de jornalista favoreceu ainda mais as empresas que já atuavam irregularmente 

 Imagem/Arquivo
 
Raisa Marcondes
Apesar de o Supremo Tribunal Federal ter considerado que o exercício profissional do jornalista não carece de formação superior na área, as principais empresas de comunicação estão mantendo em seus quadros, e contratando, apenas profissionais formados. Isso já era esperado porque assim como várias outras profissões em que o mesmo fenômeno é observado, como na publicidade, as próprias empresas sabem dos riscos que correm se optarem por equipes amadoras, que agem por instinto e sem nenhum preparo técnico.

Por outro lado,a não obrigatoriedade do diploma de jornalista favoreceu ainda mais aquelas empresas que já atuavam irregularmente no jornalismo. Infelizmente é a partir delas que continuamos nos deparando com péssimos exemplos do que a falta de preparo, aliada à exploração de mão de obra barata, é capaz de fazer com essa profissão na qual credibilidade deveria ser regra.

No município de Campo Mourão (distante 60 km de Maringá) há um jornal, de nome "Jornal Show", que se destina, ou pelo menos deveria, a notícias da cidade. Já na capa, na edição de julho, há uma confusão de cores e diagramação. As mais diversificadas publicidades tomam conta de mais de metade da página e não estão concentradas em um só ponto. Ao contrário disso, estão espalhadas por entre as notícias e nos mais diferentes tamanhos e cores. A capa do jornal faz juz ao nome e é um verdadeiro "show".

Além disso, há o problema de conteúdo do jornal, que parece mais um panfleto de época de eleições. Nas reportagens, pessoas públicas exageradamente elogiadas por seus feitos à comunidade. Observa-se também que as poucas notícias são postas de lado nas demais páginas do jornal, que vêm após os classificados.

Se a profissão não é valorizada hoje pelo brasileiro é porque a população, de certo modo, ainda confunde o jornalismo com essas publicações que empresários mal intencionados tentam apresentar como "jornais". A empresa jornalística deve pensar na seriedade que deseja, ou deveria desejar ter. Uma informação séria, livre e objetiva é o que as pessoas precisam.

No amadorismo, os conteúdos tornam-se prolixos e o leitor é desrespeitado no seu direito à informação. Qualquer pessoa pode aprender a escrever bem e dentro das normas de padronização adotadas pelos grandes jornais do Brasil. Qualquer profissional que possua bom vocabulário pode escrever um artigo e expor sua opinião. Qualquer pessoa pode fazer uma entrevista de cinco minutos com algumas perguntas simplórias. Nem por isso estará fazendo jornalismo nem observando as condutas, sobretudo éticas, desse profissional, moldado pelos debates acadêmicos e pela visão crítica que o jornalismo exige.

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