domingo, 18 de outubro de 2015

Erros comuns na escolha das reportagens

De acordo com as teorias do jornalismo, há que estabelecer um padrão correto na hora de hierarquizar as informações

Raisa Marcondes

Todo estudante de jornalismo sabe, ou deveria saber quais são os requisitos básicos para se estruturar uma reportagem. O uso correto dos verbos, das declarações da fonte e do volume de informações necessário para legitimar a reportagem. Isso deve estar aliado à noção de o quanto a reportagem impactará a vida das pessoas daquela região onde o jornal circula. A isso damos o nome de hierarquização da notícia.Na edição do dia 15 de junho, o “Diário do Norte do Paraná” traz um exemplo da falta de reflexão sobre a importância que deve se dar a essa hierarquia – entendida como algo que afeta o maior número de pessoas em uma comunidade. A reportagem da editoria Zoom, (página 3, considerada a mais importante do jornal), trouxe o seguinte título: “Com o dólar em baixa, viagens internacionais ganham fôlego”. A reportagem trata sobre como as classes A e B se beneficiam com a queda da moeda americana, quando o assunto é viajar. O material por si só não é problema, já que segundo Nelson Traquina, no livro “Teorias do Jornalismo”, o dinheiro e tudo o que mexe com o imaginário humano de consumo é considerado um valor-notícia. Mas o problema vai mais longe. Na mesma edição do jornal, na página 4, há outra reportagem com o seguinte título: “Atendimento a crianças e adolescentes cresce 110%”. O texto trata inteiramente do problema da droga que está ainda mais impregnada na vida dos adolescentes de Maringá.O problema da falta de hierarquização está justamente na localização e no espaço dedicado a cada uma das reportagens. Diferentemente da reportagem estampada na Zoom, o texto que trata da adolescência ocupa somente metade da página. Deveria ser uma reportagem mais explorada, por afetar todas as camadas sociais. Mas foi “ofuscado” por uma reportagem que, em princípio, interessa mais a quem tem maior poder aquisitivo e pode viajar mais. De acordo com o que se aprende nas faculdades de jornalismo, o procedimento correto na escolha de qual reportagem estampará a maior parte do jornal, deve se norteada por valores conhecidos como “valores-notícia”. São elementos presentes nas reportagens que vão dar uma idéia de como o assunto deve ser tratado e responde a certas perguntas: a quem interessará essa notícia? Quem será mais impactado? E quanta ênfase deve ser dada ao fato?Traquina lembra que os valores-notícia mais importantes são morte e proximidade. A reportagem que expõe a realidade da droga em Maringá está mais em conformidade com os valores notícias citados pelo estudioso do que a reportagem que trata das viagens ao exterior. Além de fugir da realidade da maioria dos maringaenses, a reportagem sobre as viagens não causa tanto impacto e reflexão quanto a do problema das drogas.Deve-se pensar melhor no destaque a ser dado a certas reportagens. A mídia não deve ter o papel de “mascarar” a realidade. Se há problemas na sociedade, devem ser expostos de maneira ponderada (para não virar sensacionalismo), mas sem que sejam colocados em segundo plano, beneficiando somente uma parte pequena da sociedade.

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