domingo, 18 de outubro de 2015

Na noite maringaense, elas são rainhas

As drag queens levam uma vida quase normal; durante o dia, têm um emprego comum mas quando chega a noite, transformam-se

 Imagem/João Paulo Dantas 
 A drag Fervera Tiger fica cerca de duas horas se produzindo
João Paulo Dantas
A noite GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) de Maringá conta com inúmeros atrativos, com músicas animadas, que embalam o ritmo da festa. Mas o verdadeiro show fica por conta das drag queens, que fazem performances com o objetivo de animar ainda mais o público. Nesses locais, o preconceito não está presente, brigas são raras e a diversão vem acima de tudo.

Durante a noite elas são impecáveis: maquiagem carregada e perucas exóticas. Desfilam pela noite maringaense com orgulho da valorização que recebem no ambiente de trabalho. “Eu não me sinto importante, sou importante, meu amor. Me produzo durante horas, todos me notam”, afirma Fervera Tiger, 33. É evidente o quanto Tiger considera importante ser, no mínimo, conhecida - isso é comum no mundo das drag queens, afinal, quanto mais amadas e valorizadas pelo público que as assiste, mais elas se sentem motivadas. “A meu ver, o que leva a drag queen a querer trabalhar com isso é a valorização. Só pelo fato de ser conhecida, de sempre ser elogiada.

Como são bonitas, como parecem mulheres, isso tudo as motiva ainda mais”, explica Camila Telles, 24, psicóloga especialista em terapia comportamental, ela diz ainda que muitas vezes a drag começam “por influência da família, que pode ter mimado muito a criança, ou quando ela foi criada muito próxima a uma garota”.

Aliás, Shalanna Mitchell, 24, mostra à reportagem do Matéria Prima o quanto realmente é valorizada, como Telles afirma. “Quem quiser saber mais sobre mim, acessa o Google e digita lá: Shalanna Mitchell. Acho isso muito chique e digno, sinal que sou importante. Lá vocês vão achar muita coisa sobre mim”, diz a drag, sempre bem humorada.

Essas “rainhas” da noite levam uma vida quase normal. Durante o dia, têm um trabalho comum, mas é só até a noite chegar, quando, então, assumem outra identidade. É o caso de Mitchell, que durante o dia é cabeleireiro e atende pelo nome de Marcos Galdino. “Sou maquiador e trabalho para agência de modelos e publicidade, fazendo catálogos”, conta. O nome exótico veio de uma antiga top model, que abrilhantou as passarelas nas décadas de 1970 e 1980. “Achava super digna, ela tinha tudo a ver comigo”, explica.

A realização dessas performances nas boates gays maringaenses muitas vezes é o diferencial do local, já que nem todos os ambientes GLS da cidade contam com a realização de shows com as drags. “É um trabalho super criativo e ousado, com muito glamour. Acho fundamental as casas noturnas GLS terem shows de drag queens, pois a festa fica mais colorida e divertida, destacando o local”, diz Willian Jackson, 27, promoter.


Alegria e preconceito não existem juntos


Simpatizantes da causa aderem ao movimento homossexual para mostrar aceitação, apoio e principalmente para divertir


Raisa Marcondes
Em Maringá, o número de simpatizantes da causa gay é grande. São heterossexuais que fazem questão de mostrar seu apoio e, principalmente, aceitação aos homossexuais que, apesar disso, ainda hoje sofrem preconceito.

O crescimento dessa aprovação é notado principalmente nas baladas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), que ocorrem todo fim de semana em várias boates na noite maringaense. Ali, as pessoas não querem saber quem é gay ou simpatizante. A diversão fala mais alto e toma conta. O entretenimento serve como forma de auto-afirmação e é um jeito de “jogar tudo para o ar’’.

J.G., 25, bissexual, professor, diz acreditar que o público também serve como atrativo para as baladas GLS. “É um lugar mais tranquilo. Raramente você vê briga ou violência de qualquer tipo. A música é bem melhor. O público é mais calmo e organizado. Diferente de baladas em que dá todo o tipo de gente’’, diz. Ele afirma ainda que heterossexuais que frequentam balada GLS sofrem tanto preconceito quanto homossexuais. “É difícil para uma pessoa entender que alguém vai para uma balada GLS somente se divertir’’, conta.

C.C., 26, professora, heterossexual, conta que o que a atraiu para a noite GLS foi a curiosidade. “Eu sempre quis saber como era. Só não gostei porque não tinha muitos heterossexuais bonitos’’, brinca. Ela diz também que se sente mais à vontade nas noites GLS. “Eu me soltei muito mais. Numa balada tradicional você fica mais recatado, com vergonha de ser quem você realmente é’’, afirma.

Lourdes Mozango, 43, psicóloga especializada em relacionamentos, diz que o crescimento do número de simpatizantes da causa se deve ao fato de que hoje o movimento gay é mais ouvido. “Nas paradas gays, em programas de TV, jornais e revistas nós somos constantemente lembrados de que os gays existem e que são um grupo ativo na sociedade. Essa aceitação é um sinal de que a sociedade está pronta para ouvi-los’’, diz.

Por outro lado, em Maringá a aceitação desse grupo fora das boates ainda é uma questão de tempo. “Nesses lugares as pessoas podem ser e mostrar quem são à vontade. Mas nossa cidade ainda tem um pensamento muito arcaico em relação a isso. Os maringaenses ainda não estão preparados para reconhecer os gays como pessoas que têm direitos e deveres como qualquer outros’’, diz a psicóloga.

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